Planejar a vida faz parte do cotidiano de muita gente,
desde a infância. Começamos bem cedo a pensar “o que vou ser quando crescer? ”.
Impulsionados por um sentimento próprio ou por um questionamento social, sempre
compreendemos nossos desejos para o futuro e sua realização como um degrau para
a felicidade.
Nem sempre
é assim. Muitos planos não se concretizam, sonhos nem sempre se realizam. O
emprego pelo qual batalhamos, o casamento com aquele que amamos, os filhos
planejados, a casa, as viagens, o corpo ideal, tudo isso pode simplesmente não
acontecer, ou mesmo nos causar surpresa por não corresponder às nossas
expectativas. Então, vem a frustração, com a qual, geralmente, não estamos
acostumados a lidar.
O que
fazer, então? Sentar e chorar, cortar os pulsos, entregar-se a uma postura
amarga diante do mundo não vão adiantar. Porque é preciso entender que nem
sempre temos controle sobre tudo. Essa mania de achar que vamos ter o futuro
que planejamos, ou que planejaram para nós, só nos leva à terrível sensação de
fracasso. É preciso ter maturidade para associar desejo e realização.
A felicidade
não corresponde à efetivação de todas as nossas vontades, mas à capacidade de
reinvenção de si mesmo, de transformação do cotidiano, de aceitação e
compreensão de nossos limites e dos limites do outro. Refazer planos,
reconstruir sonhos, ver o lado B da vida, projetar-se naquilo que é possível e
estabelecer metas reais pode ser muito enriquecedor e trazer alegrias que
sequer imaginamos um dia.
Talvez a
tão sonhada felicidade esteja no desafio diário de encontrar capacidades que
outrora desconhecíamos, faculdades antes inimaginadas, habilidades
desconhecidas, amores possíveis, uma vida surpreendentemente feliz. Basta virar
o disco.
Por Flavia Abreu
"O Nascimento de Vênus". Sandro Botticelli. séc. XV