segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Bastardos Inglórios

Este filme do Tarantino é, sem sombra de dúvida, um hino à sétima arte. Valendo-se da metalinguagem, o cineasta consagra-se como um dos melhores diretores do seu tempo.
Trata-se de uma inversão na História que a humanidade gostaria de ter visto: os “bastardos”, liderados por Aldo Rayne, personagem de Brad Pitt, eram um grupo de soldados americanos judeus que objetivavam matar os nazistas e arrancar-lhes os escalpos, causando terror no Terceiro Reich. 

Na época da ocupação nazista na França, a menina judia Soshana (Mélanie Laurent), testemunha o frio assassinato de sua família e foge para Paris. Com uma nova identidade, torna-se dona de um cinema e planeja vingar a execução de sua família e destruir o Terceiro Reich. O plano dos “bastardos” para destruir o alto comando de Hitler acaba coincidindo com o da moça, dentro do cinema. 

É aqui que a gente pensa: “Viva o cinema!” O cinema de Soshana, o palco daquela aventura de violência bruta, que deixa Ridley Scott ou os irmãos Cohen no chinelo. O cinema de Tarantino, que nos brinda com cenas magníficas, gloriosas, num grande espetáculo com aqueles nazistas bárbaros e covardes numa condição nunca mostrada nos filmes sobre Hitler. Um espetáculo jamais visto pela humanidade, mas que ganhamos de presente de Quentin Tarantino.










Dividida em blocos quase independentes entre si, a trama é cheia de referências: Sérgio Leone, o “western”, a “nouvelle vague”, o “kung fu”, como já fez o diretor em outros filmes, como “Kill Bill”, sempre de forma enriquecedora e muito bem organizada, como uma grande homenagem ao cinema. 

O elenco conta ainda com Diane Kruger, interpretando Bridget Von Hammersmark, uma espiã disfarçada, que acaba penetrando o meio nazista e com o brilhante Christoph Waltz, como o coronel nazista Hans Landa, covarde, frio, meticuloso e... medroso. Um brilhante ator, perfeito no papel de apavorado ao ouvir falar dos “bastardos” e de sua violência quase expletiva, gratuita, afinal, arrancar os escalpos dos soldados mortos... pra quê? Mais uma referência que Tarantino traz do mundo apache. 

Uma vingança. Uma catarse. A estória do diretor sobrepõe-se à História, transpondo-nos para um outro mundo, através do clímax do filme, um show, um espetáculo. Cinema é isso, espetáculo. E o cinema de Tarantino vem, cada vez mais, transbordando o seu talento; o jovem diretor, a cada trabalho lançado, mostra maturidade e um preciso trabalho de direção. 

“Bastardos Inglórios”, que poderia se chamar “Gloriosos Bastardos” é a obra-prima de Tarantino. 

Viva o Cinema! 



Por Flavia Abreu 


Imagem: Divulgação

Esta resenha foi publicada também no blogue Paralelos/O Globo.


Almoço com Cabernet Sauvignon, Manoel de Barros, Jesus Cristo e Flavia

Enquanto Manoel, indesculpavelmente telúrico, 
me falava da Terra,
Jesus, trágico visionário, Cassandra de si,
apontava-me o Céu.

Flavia, em desassossego, buscava, oportuna,
uma escada de Jacó.

Despretensioso, o Cabernet, como previra Catulo,
revelava-me a verdade.



Por Laurindo Santarrita

Espera

Ainda que você não volte,
guardarei limpas suas botas pretas da labuta.

O café o aguardará quente, 
na xícara sobre a mesa
forrada com a chita do nosso casamento.

E a cama pronta...
E todas as curvas do meu corpo para o seu caminhar.











Por Flavia Abreu

Imagem: Edvard Munch, "Amor e Dor". Óleo sobre tela. 1893-1894

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Magistério

Escrevi meu amor num imenso quadro negro
para que o mundo o conhecesse.
Mas escrevi a giz
e o tempo deu conta de apagá-lo.










Por Flavia Abreu

Imagem: Edvard Munch. "O Beijo". Óleo sobre tela. 1897

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Touchstone

fosse eu imortal
todo dia era igual

sendo pó e coisa e tal
o dia todo é capital



Por Laurindo Santarrita

Monóculo de Narciso

O açude, sujinho, ainda dá de beber às vacas.
Os patos foram comidos pelos cães.
O jacaré... bom, esse deve ter morrido.
O roseiral ficou na lembrança. 
Assim como o pai, sentado à sombra de uma árvore com seu fumo /de rolo. 
A mesma foto, à beira do açude, quarenta anos depois.
E as lágrimas, incontidas, intensas, inconclusas, pela memória /reescrita num instante.







Por Flavia Abreu